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Beber muita água faz mal aos rins? 7 mitos sobre a saúde renal
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Beber muita água faz mal aos rins? 7 mitos sobre a saúde renal

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A nível mundial, 8 a 10% da população sofre com doença renal crónica (DRC) e, na Europa, morrem, todos os anos, mais de 64 mil pessoas por doenças renais (ver aqui). Apesar de as patologias renais terem um impacto significativo, persistem algumas dúvidas sobre a saúde do rim. Uma dieta rica em proteína prejudica os rins? Só estão em risco pessoas com histórico familiar de doença renal? Chás e suplementos de plantas são benéficos para os rins?

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No Dia Mundial do Rim, Luís Coentrão, nefrologista no serviço de medicina intensiva do Centro Hospitalar de São João (CHSJ) e membro da direção da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN), esclarece sete mitos sobre a saúde renal.

Mito 1: Uma dieta rica em proteína prejudica os rins

Luís Coentrão começa por explicar que “uma dieta adequada de proteína para um indivíduo saudável ronda os 1,2 gramas por quilo de peso por dia”. Contudo, refere o médico, “na sociedade ocidental, acabamos, muitas vezes, por ingerir mais proteína do que é exigido”. 

Ainda assim, segundo o especialista, em indivíduos saudáveis “não há evidência de que ingerir mais proteína do que é recomendado seja prejudicial, ou que vá causar doença renal”. 

No caso de doentes renais, há apenas a recomendação de não ultrapassar a ingestão do valor diário estabelecido de proteína. Porquê? Tal como o fígado, “os rins são importantes na eliminação de toxinas”, aponta o médico. 

Contudo, “um dos problemas das pessoas com doença renal é não conseguirem eliminar as toxinas que ingerem”. Assim, não é recomendado que estes doentes ingiram proteína em excesso, pois, se o fizerem, correm o risco de “ter sintomas de intoxicação”, sustenta.

Mito 2: Beber muita água faz mal os rins

Na perspetiva de Luís Coentrão, tal como “é inquestionável que temos de respirar”, o mesmo se aplica à ingestão de água. “Beber água é indispensável, é uma obrigação”.

Em termos de quantidades, num dia em que não há uma atividade física intensa, em que apenas se vai “para o trabalho e se volta para casa, nós necessitamos de cerca de dois litros e meio de água”, exemplifica o nefrologista. 

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Esta água pode encontrar-se “no copo de água que bebemos à refeição, na sopa e no resto da alimentação”, por exemplo.

Portanto, do ponto de vista do médico, o problema não é beber muita água, é não beber água. Até porque “se eu beber cinco ou seis litros de água num dia, o organismo tem a capacidade de eliminar o excesso de água”.

Em contrapartida, salienta, “se não bebermos água, o organismo não consegue conservar o que não existe”. 

Por outro lado, “há uma ou outra doença renal que, de facto, pode beneficiar de um excesso de água”, aponta o especialista. As pessoas com litíase renal (pedra nos rins) ou com doenças císticas (quistos nos rins) “beneficiam de uma ingestão de água acima do normal”. 

Mito 3: Dor nas costas indica sempre um problema nos rins

Segundo Luís Coentrão a ideia de que qualquer dor nas costas indica um problema nos rins é falsa. Aliás, por norma, as patologias do rim não provocam dor, a não ser que a pessoa tenha uma pedra no rim.

“Mas esse tipo de dor nunca mais esquece”, salienta o especialista, descrevendo-a como “uma dor tão lancinante que as mulheres que já tiveram filhos em partos normais sem epidural manifestam que a dor da litíase renal é superior à dor do parto”.

Isto nada tem a ver “com a dor nas costas, na região lombar, que qualquer um de nós pode ter”, esclarece.

Claro que, “se a pessoa tiver um tumor de grande dimensão nos rins pode ter dores”, mas esse tipo de situação “não é comum”, conclui o médico.

Mito 4: Só estão em risco as pessoas com histórico familiar de doença renal

Dentro da patologia renal, “existem, de facto, doenças hereditárias”, como “a doença cística renal”, admite Luís Coentrão. Aliás, nesses casos, é possível “identificar o gene e prever se a próxima geração poderá ter ou não”. 

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No entanto, no caso da doença renal crónica (a mais comum), os seus principais fatores de risco são “a diabetes, a hipertensão e a obesidade”.

Neste contexto, “o risco é mais individual, ou seja, a pessoa com diabetes tem de controlar bem a doença” para não correr o risco de ter uma lesão crónica nos rins.

Isto é, “não é pela mãe do doente ter entrado em diálise (porque teve diabetes) que essa pessoa também vai entrar”, sustenta.

Mito 5: Chás e suplementos de plantas são benéficos e mais seguros para os rins

Na visão do nefrologista, existem plantas e chás medicinais “com efeitos positivos e interessantes”. No entanto, o médico admite não ter conhecimento de chás e suplementos que sejam considerados “benéficos para os rins”.

Além disso, tomar determinados suplementos e chás pode em excesso pode ser prejudicial à saúde, tal como acontece com os medicamentos.

Luís Coentrão dá um exemplo: “É comum tomarmos paracetamol ou ibuprofeno, porque são medicamentos de venda livre, com efeito anti-inflamatório e aliviam a dor. Contudo, se forem tomados em excesso, têm um efeito tóxico hepático e renal. O mesmo acontece com os chás e os suplementos, corremos esse risco”.

Para mais, o médico alerta para o facto de determinados medicamentos e chás terem “um efeito diurético”, o que leva as pessoas a acreditarem que “se estão a urinar mais, os rins estão a funcionar bem”, o que não é necessariamente verdade.

O especialista adianta que “urinar é uma função fisiológica e todos temos de urinar todos os dias”, mas “uma pessoa saudável não precisa de medicamentos ou de chás que tenham um efeito diurético”. 

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Aliás, “dependendo da substância, há chás e medicamentos que podem ter efeito tóxico renal, se forem tomados de forma crónica”, avisa.

Luís Coentrão refere que, em consulta, “é recorrente não se perceber a origem da doença renal, porque a pessoa não é diabética ou não tem doença familiar” e, depois, descobrir-se que o doente andava a “ingerir estas substâncias inocentemente”, aponta.

Mito 6: Os únicos tratamentos para problemas renais são a diálise e o transplante

Luís Coentrão começa por explicar que “há dois grandes grupos de problemas dos rins: a doença renal aguda e a doença renal crónica”. 

Por um lado, “a doença renal aguda, na sociedade ocidental”, ocorre, sobretudo, “em doentes dos cuidados intensivos”, que tiveram, por exemplo, “uma infeção grave (como a Covid 19)”, “um enfarte”, ou “algum tipo de trauma”, que também afetou o rim.

Segundo o membro da SPN, “a doença renal aguda é potencialmente tratável, na maioria dos casos” e “os rins podem recuperar” na totalidade.

Por outro lado, “os doentes que desenvolvem doença renal crónica” podem ser “pessoas que saem do hospital com cicatrizes de lesões renais agudas” ou “doentes com diabetes, hipertensão, obesidade e doenças renais genéticas”, esclarece.

São estes doentes que podem precisar de ser tratados com diálise ou de transplante. Contudo, é possível que estes métodos não sejam necessários, “se a doença renal crónica for tratada atempadamente”, sustenta.

Luís Coentrão refere que existem, atualmente, medicamentos disponíveis que, em conjunto com alterações de estilo de vida, “permitem prevenir a evolução da doença”.

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Caso seja mesmo necessário, parte-se para a diálise ou o transplante (ver aqui). Segundo o médico, “esta é a especialidade que mais facilidade tem em substituir um órgão”. Além disso, frisa, “o transplante renal e a diálise são muito eficazes e conseguem salvar muitas vidas”.

Mito 7: Não há nada que se possa fazer para prevenir problemas nos rins

Segundo Luís Coentrão, “não é fácil evitar a doença renal aguda”, porque, neste caso, trata-se, muitas vezes, de “um doente azarado”, uma vez que esta condição deriva de outra.

Em contrapartida, “a doença renal crónica [DRC] é claramente evitável”, salienta o nefrologista. 

Apesar de a diabetes e a hipertensão terem “algum componente genético-hereditário”, a maioria dos casos de doença renal crónica deve-se a hábitos de vida pouco saudáveis.

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Num texto informativo, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América (CDC, na sigla inglesa) apontam algumas recomendações para pessoas com doença renal crónica (ou em risco de ter).

Por um lado, deve-se controlar a tensão arterial e, caso a pessoa tenha diabetes, deve estar a ser acompanhada.

Além disso, os CDC aconselham a perda de peso, se for necessário, e sustentam que pessoas de risco devem “fazer a análises regulares à doença renal crónica”.

No mesmo sentido, aponta-se  num texto publicado no site do Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa), é importante “ter uma dieta saudável e equilibrada”, “limitar a ingestão de sal” e “fazer exercício físico regular”.

Para mais, acrescenta o NHS, em caso de doença renal crónica, é essencial “evitar medicamentos anti-inflamatórios não esteroides de venda livre, como o ibuprofeno” (exceto quando aconselhado por um profissional de saúde). 

Por último, deixar de fumar e limitar o consumo de álcool são medidas indispensáveis para promover a saúde dos rins.

14 Mar 2024 - 10:13

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